quarta-feira, 12 de outubro de 2016

'Vamos correr atrás', diz organizador da BA sobre proibição de vaquejadas

Prática foi proibida no Ceará, mas decisão serve de referência no país. Pecuaristas estimam que maior prejuízo é a perda de vagas de emprego.


Competição no Parque Maria do Carmo, em Serrinha (Foto: Divulgação)
Os organizadores de vaquejadas da Bahia acreditam que a perda de postos de trabalho será o maior impacto da proibição das vaquejadas no estado. O G1 conversou nesta terça-feira (11) com promotores desses eventos e com o presidente da Associação Baiana de Vaquejadas, que contestam a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que proibiu a atividade no estado do Ceará. Eles destacam que a prática se modernizou e que há cuidados para preservar a saúde de vaqueiros e animais.

Para o promotor de Justiça de Meio Ambiente do Ministério Publico Estadual, Heron Santana, a vaquejada passou a ser uma atividade ilegal desde o momento em que o STF decidiu a sua inconstitucionalidade. Isso significa que todas as autoridades do poder judiciário e da administração têm que seguir essa decisão do STF. Portanto, segundo o promotor, a vaquejada está proibida em todo território nacional, inclusive na Bahia.
Parque Manoel Armindo, em Conceição de Jacuípe
(Foto: Divulgação)


Nesta terça-feira, manifestações que defendem a continuidade da realização da atividade foram realizadas na Bahia. A vaquejada é uma tradição cultural nordestina na qual o boi é solto em uma pista e dois vaqueiros montados a cavalo tentam derrubá-lo. Alguns dos eventos no estado também realizam shows dentro dos parques de vaquejadas, que acontecem em um espaço diferente da pista onde os bois são levados para as competições.

"Vamos ver se temos alguma forma de reverter essa situação. Estamos à frente de uma vaquejada moderna, que não causa maus-tratos. Não gostamos de ser contra lei, vamos correr atrás para mudar a situação", disse o presidente da Associação de Vaquejadas da Bahia (ABV), Valmir Velozo.

Velozo, de 50 anos, que é veterinário e atua há cerca 26 anos em vaquejadas, conta que na Bahia, as vaquejadas criam 150 mil empregos diretos e 250 mil indiretos. Além disso, a atividade gera uma receita de R$ 250 milhões por ano. "Não é só a vaquejada. Tem leilões, venda de arreios, caminhões, tudo isso pertence ao evento", disse.

Para o presidente da ABV, o impacto da proibição vai atingir o trabalhador. "Esses funcionários não têm qualificação. Eles sabem montar um cavalo, cuidar de um animal, mas muitos só possuem o ensino médio, não serão absorvidos no mercado e vão passar fome. [A vaquejada] é algo que fazem a vida inteira. A preocupação é de cunho social também", relatou.

Sobre os cuidados, Velozo falou que entre as medidas para evitar qualquer tipo de maus-tratos a animais, estão a areia de pista, local para alimentação, sombreamento, veterinários de plantão para boi e para cavalo.

Comunicado da Vaquejada de Berimbau sobre o
cancelamento (Foto: Reprodução/Site da Vaquejada
de berimbau)
O pecuarista Manoel Armindo também falou sobre os empregos e disse que o evento que promoveria, marcado para o mês de novembro, já foi cancelado por conta da determinação do STF.

Armindo organiza a Vaquejada de Berimbau, em Conceição de Jacuípe, na região de Feira de Santana, há cerca de 15 anos. O evento era realizado no Parque Manoel Armindo e a organização esperava para o evento deste ano cerca de 12 mil pessoas. "Se a proibição permanecer, o impacto será grande. A gente vai ter que demitir 70% do pessoal, porque não tem trabalho para tanta gente", disse.

De acordo com a organização da Vaquejada de Serrinha, uma das principais da Bahia, que acontece no Parque Maria do Carmo, no município que dá o nome ao evento, a 173 km de Salvador, são 1.500 a 2 mil empregos indiretos durante quatro dias de festa. Este ano, o evento foi realizado no mês de setembro e levou 180 mil pessoas ao parque.

O administrador Lucas Carvalho iria promover pela primeira vez uma vaquejada na região da Praia do Forte, no litoral norte da Bahia, mas o evento foi cancelado após a decisão do STF. "Nesse evento estávamos prontos para receber gente do Brasil interio. Afeta o emprego, desde o barraqueiro que vende pipoca, até os juízes do evento, locutores, entre outros. Muita gente vai perder o emprego por uma questão de falta de conhecimento sobre as vaquejadas. As pessoas falam que utilizamos choques, que o boi é maltradado. As pessoas precisam buscar conhecer sobre a atividade", relatou.

Vaquejada na Bahia
A vaquejada no estado é Patrimônio Cultural Imaterial do Estado da Bahia. O projeto foi aprovado em 2014 e a lei sancionada no mesmo ano. Em 2015, a atividade foi regulamentada como esportiva e cultural. A lei unifica as regras para a realização de vaquejadas e cavalgadas, ao estabelecer normas de realização dos eventos através do controle e prevenção sanitário-ambientais, higiênico-sanitárias e de segurança em geral, além de estipular a doação de 2% do valor da premiação aos fundos beneficentes dos animais.

Protestos
Vaqueiros e demais trabalhadores que atuam nas tradicionais vaquejadas da Bahia fizeram protestos em defesa da atividade em Feira de Santana, cidade a cerca de 100 km de Salvador, em Barreiras, oeste da Bahia, em Juazeiro, na região norte, e Vitória da Conquista, no sudoeste baiano, na manhã desta terça-feira (11).

Em Feira de Santana, uma carreata foi organizada pela Associação Baiana de Vaquejada (ABV). O protesto saiu da BR-116 Sul e ocupou uma das faixas da BR-324, até o Parque de Exposições.
Grupo é contra decisão do STF de proibir vaquejada
o Ceará (Foto: Renata Maia/TV Subaé)


De acordo com os organizadores, o protesto na região de Feira de Santana reúne mais de mil participantes e 200 veículos. A Polícia Rodoviária Federal (PRF) estima que cerca de 160 veículos tenham aderido à carreata.

Também houve protesto de vaqueiros na cidade de Juazeiro, norte da Bahia. A manifestação começou na manhã desta terça-feira, na Lagoa du Calú, e terminou na ponte Presidente Vargas, com um encontro com vaqueiros de Pernambuco.

Cerca de 500 pessoas participaram do protesto em defesa da atividade. Na região norte, aproximadamente 60 vaquejadas são realizadas durante todo o ano.

Mais de 100 manifestantes, entre vaqueiros e criadores de animais, participaram da manifestação no município de Barreiras, oeste da Bahia, na manhã desta terça. O bloqueio foi no anel rodoviario da br-242 e depois segui até o centro da cidade.

Os manifestantes dizem que a vaquejada gera emprego e renda na região oeste, com cerca de 50 eventos durante todo o ano.

Na região sudoeste do estado, no município de Vitória da Conquista, o protesto em defesa das vaquejadas ocorreu na BR-116, na saída para Cândido Sales.

Vaquejada ainda não foi proibida na Bahia (Foto: Renata Maia/ TV Subaé)
Do G1 BA

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